Com o seu primeiro salário de jornalista, a escritora Clarice Lispector comprou os seus primeiros livros. “Felicidade”, de Katherine Mansfield, foi o primeiro, seguido por “O Lobo da Estepe”, de Herman Hesse e os romances de Dostoiévski, James Joyce, Sartre e Virgínia Woof. Ela dizia que comprava os livros pelos títulos e que, ao ler “O Lobo da Estepe”, levou um “choque”. Nenhum de seus textos consegue expressar maior amor à literatura do que o conto “Felicidade Clandestina”. Nele a escritora reconstrói o momento em que, na infância, foi “torturada” por uma coleguinha que possuía o livro “As Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato, “um livro para se ficar vivendo com ele”, mas que, por pura maldade, sempre lhe dava uma desculpa para não emprestá-lo, até o dia em que a mãe da menina descobre o crime e deixa que Clarice fique com o livro o tempo que quisesse. O final traz uma daquelas frases que só a Clarice sabia escrever: “Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante”. Se estivesse viva, a escritora completaria hoje 90 anos. Parabéns, Clarice!
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
sábado, 20 de novembro de 2010
Encontro com Lygia
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Malas
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Lê Pra Mim
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Dia Nacional do Livro
Tropeçavas nos astros desastrada
Quase não tínhamos livros em casa
E a cidade não tinha livraria
Mas os livros que em nossa vida entraram
São como a radiação de um corpo negro
Apontando pra a expansão do Universo
Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso
(E, sem dúvida, sobretudo o verso)
É o que pode lançar mundos no mundo.
Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentes
Mas podemos amá-los do amor táctil
Que votamos aos maços de cigarro
Domá-los, cultivá-los em aquários,
Em estantes, gaiolas, em fogueiras
Ou lançá-los pra fora das janelas
(Talvez isso nos livre de lançarmo-nos)
Ou o que é muito pior por odiarmo-los
Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas
E de mais confusão as prateleiras.
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.
"Livros" (1997), Caetano Veloso
Sinal de Alerta
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Eu Quero!
“Durante quase quatro anos, entrevistei gente das mais diversas profissões, amantes da literatura. Conversei com os principais escritores nacionais, que me deram assim a oportunidade de conhecer suas influências literárias, histórias e o que pensam sobre livros e o mundo onde são criados. Leituras fazem a diferença na vida de qualquer pessoa… São reveladoras da personalidade, da identidade de cada ser humano. No livro, 35 autores falam de seus livros e contam sobre as obras que serviram de referência para eles. Esse rico material, transcrito inicialmente no site do programa, serviu de base para o livro”.
Mona Dorf, em sua página do portal IG.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Desabafo
E o tempo fechou entre a escritora Ruth Rocha e o PT. Depois de ver seu nome veiculado a uma lista de intelectuais que apóiam a candidata do partido, Ruth, que se diz tucana, soltou o verbo. Em carta aberta, divulgada hoje à imprensa, a escritora concluiu "indignada": “Risque meu nome do seu caderno, meu voto não vai para Dilma". O assunto foi um dos mais comentados do dia, no Twitter. O escritor Eric Nepomuceno, um dos nomes que integra a lista e que ajudou a organizá-la, declarou que a inclusão de Ruth na lista foi um "tremendo e lamentável equívoco".
“Os políticos falam muito, mas não fazem. As leis são absolutamente absurdas. Esse último governo fez uma bagunça com a educação infantil, essa história dos 6 anos de idade no primeiro ano, sem nenhuma orientação para professores e escolas. Estamos muito atrasados nisso. Tem muita gente novidadeira, que ouve falar em novos modelos de educação e querem implantar sem saber direito o que estão fazendo. Um exemplo: estou fazendo um livro sobre educação infantil para o MEC e num trecho eu menciono o saci. Falo do cachimbo do saci. Vieram me sugerir que eu não fale do cachimbo, porque é politicamente incorreto. O que é mais politicamente incorreto: falar do cachimbo ou modificar o folclore?”.
Ruth Rocha, em entrevista ao portal UOL.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
É Pique!
“Esses dias eu estava lendo os 100 livros que você precisa ler antes de morrer. Eu fiquei tão triste porque eu teria que viver mais tempo pra poder botar a lista em dia. Claro! Porque descobri que quando se chega aos 65 anos, você é uma pessoa anciã. Então eu sou um ancião”, brincou.
“Criar é fantástico, porque depois que faz uma vez, você liga na tomada e tudo o que você vê ou ouve, você pensa: Ih, isso dá livro. É igual a quem faz samba. O cara vê uma folha caindo da árvore e vira música. A gente faz livro pra gente, pra tirar aquela ideia da cabeça e caprichar. E o livro vai fazer sucesso quando ele tem alguma coisa em comum com o leitor. A melhor mensagem, o grande prêmio que eu posso receber é alguém chegar pra mim e dizer: ‘O meu filho dorme abraçado com o seu livro’. Isso me realiza como autor”.
“Não deixem seus filhos irem para o computador sem passar pelo livro”.
Ziraldo, em entrevista à EPTV, na 10ª edição da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto / Jun. 2010. Ontem, o escritor e cartunista completou 78 anos e o Google o homenageou pelos 30 anos do livro “O Menino Maluquinho”. Parabéns aos dois!
domingo, 24 de outubro de 2010
Abelha Rainha
Da onde vem essa sua paixão pelas palavras, quais são as suas primeiras lembranças do seu contato com a poesia?
Muito pequena, eu tenho a memória de meu pai gostar muito de dizer, ler poesia, falar alto poesia dentro de casa, e entre os amigos dele tinham muitos poetas. Então tinha um ritmo ali. Eu era muito pequena – nem olhavam pra mim a essa altura e nem eu... – mas eu sentia o ambiente, não é? Primeira notícia, assim, de palavra falada, verso, entonação, para dizer o poema, isso eu via nas conversas com meu pai, assim dos amigos dele e achava bom, mas eu era muito pequena mesmo. Depois, com Caetano, quatro anos mais velho que eu, então me mostrando tudo... Foi uma sorte rara, né? (risos) Assim... Caetano se interessava, Caetano sempre leu. Então ele mostrava tudo, começava a me mostrar um poeta, um texto, um filme, uma música. Foi me guiando assim. Foi abrindo tudo. Caetano já nasceu com esse dom de intelectualidade, de genialidade. (risos) Caetano nasceu com essa fome de aprender. E gostava um pouco de me educar, de me ensinar, de me conduzir assim. Outro dia ele falou pra mim "teve uma época que você não me obedecia. (risos) Eu dizia menina faça não sei quê, você não ligava”. Essa rebeldia da minha adolescência.
Nós temos uma irmã poeta, Maria Isabel, que também sempre estava escrevendo, versos juninos e versos de festa de S. Antônio, coisas mais do Recôncavo, ou sua expressão mesmo como poeta, então tinha o interesse. Casou também com um homem que era ligado à poesia, se interessava, e fazia, escrevia... Então tinha um mundo poético meio ali, na onda. Eu fui na marola, fui pegando o jeito e gostando. (risos)
Fernando Pessoa é o seu preferido? Você diria isso?
Desde que eu o conheço, ele é o meu poeta. Ele, infernalmente, me traduz com uma fidelidade... (risos)
E o que te mobiliza num texto, numa poesia?
Olha, tem que me comover. E, obviamente, se eu quero dizer, eu posso até ler, gostar e acabou, mas, se eu pretendo ler ou dizer em cena, gravar, intercalar com uma música, uma coisa, tem que me, de algum modo, me traduzir, de algum modo tratar do que estou sentindo.
E Guimarães Rosa?
Ave Maria!, sou enlouquecida por Guimarães. Eu até esqueci de dizer que Guimarães é em primeiro lugar. Eu tenho os meus três reis magos que é o Caymmi, o Guimarães e o Fernando.
Maria Bethânia, em entrevista à jornalista Leilane Neubarth / GloboNews, ao promover o seu novo espetáculo “Bethânia e As Palavras”.
sábado, 23 de outubro de 2010
Engano
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Nota Triste
Uma nota triste. Morreu na manhã de hoje o designer Henrique de Carvalho Pereira, 22 anos, depois de 10 meses internado na UTI do Hospital das Clínicas. Henrique foi agredido com um taco de beisebol, em dezembro do ano passado, quando folheava um livro de culinária na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo. O agressor, o personal trainer Alessandre Fernando Aleixo, de 38 anos, está preso. Por meio de nota, a Livraria Cultura lamentou a morte do jovem.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
"Levinha"
No inverno de 2008, encontrei na Pinacoteca de São Paulo a escritora e dramaturga Maria Adelaide Amaral. A primeira impressão não podia ser outra: baixinha, “levinha” como a chamava Caio Fernando Abreu. Eu já tinha lido “Luísa (quase uma história de amor)” (1986), “Aos Meus Amigos” (1992) e a sua biografia escrita pela Tuna Dwek, “A Emoção Libertária” (2005). Depois de pensar bastante, tomei coragem e me aproximei. Disse que admirava o seu trabalho e que gostaria de tirar uma foto com ela. A escritora não só consentiu, muito elegante, como pediu que o seu filho fizesse a imagem e ainda escolheu o lugar que havia a melhor luz. Fiquei imensamente feliz, claro. Os seus textos me tocam sensivelmente. Sobretudo quando tratam da relação pais e filhos.
“Os livros e os filmes são parte da minha nutrição. Desde cedo soube o valor de uma boa história, pois foram elas que me ajudaram a suportar os anos difíceis da minha infância e adolescência. Os livros, o cinema e o teatro e, depois, a televisão, permitiram me evadir do mundo real e ajudaram na minha formação”.
Maria Adelaide Amaral
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
À Memória de Mindlin
“Não posso ver um livro numa vitrina sem ter vontade de pegá-lo”.
“A gente procura os livros e eles nos procuram”.
“A relação com o livro passa a ter uma dimensão patológica. Mas é uma doença que me faz bem e, além do mais, é patológica”.
“Gostaria de viver trezentos anos, o que permitiria ler mais uns trinta mil livros além dos que tenho aqui”.
José Mindlin, em entrevista a Geraldo Mayrink, para A revista, em agosto de 2001. Em fevereiro último, o bibliófilo morreu, aos 95 anos. Este blog nasceu depois que li essa preciosa entrevista, por isso tudo que vier a escrever aqui será dedicado a ele. Com todo o meu carinho.