domingo, 24 de outubro de 2010

Abelha Rainha

Da onde vem essa sua paixão pelas palavras, quais são as suas primeiras lembranças do seu contato com a poesia?

Muito pequena, eu tenho a memória de meu pai gostar muito de dizer, ler poesia, falar alto poesia dentro de casa, e entre os amigos dele tinham muitos poetas. Então tinha um ritmo ali. Eu era muito pequena – nem olhavam pra mim a essa altura e nem eu... – mas eu sentia o ambiente, não é? Primeira notícia, assim, de palavra falada, verso, entonação, para dizer o poema, isso eu via nas conversas com meu pai, assim dos amigos dele e achava bom, mas eu era muito pequena mesmo. Depois, com Caetano, quatro anos mais velho que eu, então me mostrando tudo... Foi uma sorte rara, né? (risos) Assim... Caetano se interessava, Caetano sempre leu. Então ele mostrava tudo, começava a me mostrar um poeta, um texto, um filme, uma música. Foi me guiando assim. Foi abrindo tudo. Caetano já nasceu com esse dom de intelectualidade, de genialidade. (risos) Caetano nasceu com essa fome de aprender. E gostava um pouco de me educar, de me ensinar, de me conduzir assim. Outro dia ele falou pra mim "teve uma época que você não me obedecia. (risos) Eu dizia menina faça não sei quê, você não ligava”. Essa rebeldia da minha adolescência.

Nós temos uma irmã poeta, Maria Isabel, que também sempre estava escrevendo, versos juninos e versos de festa de S. Antônio, coisas mais do Recôncavo, ou sua expressão mesmo como poeta, então tinha o interesse. Casou também com um homem que era ligado à poesia, se interessava, e fazia, escrevia... Então tinha um mundo poético meio ali, na onda. Eu fui na marola, fui pegando o jeito e gostando. (risos)

Fernando Pessoa é o seu preferido? Você diria isso?

Desde que eu o conheço, ele é o meu poeta. Ele, infernalmente, me traduz com uma fidelidade... (risos)

E o que te mobiliza num texto, numa poesia?

Olha, tem que me comover. E, obviamente, se eu quero dizer, eu posso até ler, gostar e acabou, mas, se eu pretendo ler ou dizer em cena, gravar, intercalar com uma música, uma coisa, tem que me, de algum modo, me traduzir, de algum modo tratar do que estou sentindo.

E Guimarães Rosa?

Ave Maria!, sou enlouquecida por Guimarães. Eu até esqueci de dizer que Guimarães é em primeiro lugar. Eu tenho os meus três reis magos que é o Caymmi, o Guimarães e o Fernando.

Maria Bethânia, em entrevista à jornalista Leilane Neubarth / GloboNews, ao promover o seu novo espetáculo “Bethânia e As Palavras”.

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